sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Aula de portugues para japoneses

Esta semana terminei uma série de aulas de português para funcionários públicos japoneses.
Desde março tenho dado aulas de português para japoneses onde moro - Nagoya. Tive o prazer de conhecer pessoas muito interessantes que estavam dispondo de seu tempo e dinheiro para aprender o nosso idioma. Cada um deles tinha um motivo diferente como viajar para o Brasil, interagir com a vizinhança ou professores de escolas japonesas que querem conhecer mais a nossa cultura e para isso estudam a língua. Nas duas últimas turmas especiais me surpreendi com o empenho dos alunos. Esforçados, anotam tudo e estudam em casa para poder atender os brasileiros que comparecem aos órgãos públicos onde trabalham.
Como os cursos são rápidos não dá para ensinar gramática mas sempre tenho a preocupação de passar o básico de forma que possam quebrar o gelo e abrir um canal de comunicação. Outra preocupação é mostrar as diferenças culturais, de valores, etiqueta social e do bom senso que existe entre os dois povos. O que pode ser óbvio sob o ponto de vista japonês pode não ser para nós e vice-versa. Mais do que a dificuldade do aprendizado do português num curto espaço de tempo os alunos ficam espantados com essas diferenças e quando passam a compreendê-las os conceitos sobre os trabalhadores brasileiros muda. E, felizmente, para melhor. Uma das coisas que sempre faço questão de explicar a eles é que muitos dos japoneses que imigrou para o nosso país morreu sem falar um "a" em português. Já a segunda geração aprendeu os dois idiomas porque em casa só se usava o japonês enquanto que na escola e na sociedade o português. Por que toco nesse assunto? Para ilustrar a herança que recebemos dos japoneses, apesar de não achar que isso seja uma desculpa.
Os brasileiros aqui neste arquipélago formaram comunidades tal qual no Brasil quando participavam ativamente das colônias. A maioria só fala o português, parte das crianças só fala o japonês e parte só o português. Ou seja, a história se repete. Como brasileira fico muito triste em ver esse quadro.
Toda vez que piso na sala de aula penso a mesma coisa. Será que o fato de funcionários públicos japoneses estarem aprendendo português é motivo de orgulho ou de vergonha para nós? Apesar de o Brasil ser um país de imigrantes não existe sequer placas indicativas em outros idiomas nos órgãos públicos, nas rodoviárias ou nos pontos de ônibus. Existem só nos aeroportos internacionais, hotéis que recebem hóspedes estrangeiros e em restaurantes que atendem estrangeiros. De vez em quando, dependendo da região, vimos indicações em espanhol ou inglês por causa dos visitantes em massa que se recebe nas praias do sul, por exemplo. Lá no nosso país os estrangeiros são obrigados a entrar na nossa. É claro que isso pode ser de uma forma mais light mas o Brasil, apesar de ser formado por estrangeiros, não é um país com ares internacionais. Vide o nosso atual presidente, por exemplo. Só nos faz passar vergonha quando vai para o exterior pois não consegue respeitar a cultura alheia. Há um ditado popular que diz "When in Rome do as a roman do". Traduzindo, em Roma se porte como um romano. Aqui no Japão também há um idêntico 「郷に入っては郷に従え」, ou seja, "go ni itte wa go ni shitagae", escrito por um monge na era Heian. Assim sendo, será que os funcionários públicos japoneses precisam mesmo aprender o nosso idioma? Eles poderiam estudar para ir visitar o nosso país, a trabalho ou a passeio, mas não para tentar nos atender nos guichês.
Todos que estamos aqui de passagem ou fixando residência só temos a ganhar aprendendo o idioma, consequentemente, a respeitar a cultura, conhecer os valores, a etiqueta e o bom senso para uma convivência harmoniosa. Isso não vai nos ferir e muito menos vamos perder nossa identidade. Com esse aprendizado várias portas se abrem: a primeira é a do convívio social com os japoneses e as outras podem ser de escolas, faculdades, novas possibilidades de emprego, de lazer, leitura (as bibliotecas daqui são maravilhosas!) e outras mais. E tudo isso é extensivo em outros países. Inclusive no mundo dos negócios. Pense nisso!

Um comentário:

azuki disse...
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